Dieta rica em frutose altera genes no cérebro, influencia na saúde e na memória

Pesquisa científica mostra os efeitos nocivos do excesso de frutose – um dos adoçantes mais comuns em nossa alimentação – no funcionamento do cérebro e na saúde.

Em uma pesquisa reveladora, cientistas da Universidade da Califórnia em Los Angeles mostraram os perigos do consumo exagerado de frutose – um tipo bastante comum de açúcar (veja no quadro abaixo). De acordo com os cientistas, muita frutose na dieta aumenta os riscos de uma série de doenças no corpo todo, ao modificar a expressão de genes no cérebro.

Em outras palavras: frutose demais na alimentação faz com que milhares de genes sejam ‘ligados’ ou ‘desligados’ de maneira anormal no cérebro. Boa parte desses genes estão ativos em áreas cerebrais que controlam nosso metabolismo e estão intimamente relacionadas à alimentação e à formação e retenção de memórias, como veremos adiante.

Entre as doenças mencionadas no estudo estão o diabetes, doenças cardiovasculares, Parkinson, depressão, transtornos bipolares e até mesmo problemas de memória.

Além de alertar sobre o consumo de frutose, o trabalho científico, publicado no periódico EBioMedicine, também traz uma boa notícia: ingerir ômega-3 parece ‘proteger’ os genes contra os efeitos nocivos do excesso de frutose na dieta.

 

FRUTOSE EM EXCESSO, CÉREBRO AFETADO

[quote_right]Além de apresentarem problemas de memória, os ratos que ingeriram frutose em excesso estavam com taxas altíssimas de açúcar, triglicérides e insulina no sangue – o que é péssimo para a saúde[/quote_right]

No estudo, os cientistas estudaram a expressão de mais de 20 mil genes no cérebro de ratos. Parte dos animais estudados havia ingerido, durante seis semanas, uma dieta riquíssima em frutose – sua alimentação era tão ‘doce’ que eles estavam bebendo o equivalente a 1L de refrigerante todos os dias. Outros animais observados no estudo haviam ingerido uma dieta rica em frutose e, ao mesmo tempo, rica também em um ácido graxo conhecido como DHA, da ‘família’ do ômega-3.

Dos 20 mil genes, os cientistas identificaram mais de 700 no hipotálamo (o principal centro de controle do metabolismo) e 200 no hipocampo (que ajuda a regular a memória e o aprendizado) que haviam sido modificados pela dieta rica em frutose. Esses genes mostraram um padrão de expressão anormal, influenciando o funcionamento de todo o organismo.

Dos cerca de 900 genes identificados, a grande maioria possui correlação com genes encontrados também no cérebro humano. Estudos anteriores já haviam vinculado a expressão anormal deles com as doenças mencionadas no segundo parágrafo deste texto.

 

A FRUTOSE EM NOSSA ALIMENTAÇÃO

excesso de açúcar nas sobremesas
A frutose pode ser encontrada em sua forma ‘pura’, concentrada, ou então como componente de açúcares mais complexos, como o açúcar de cana.

A frutose é um açúcar simples, presente naturalmente em frutas (por isso seu nome) e demais vegetais. Ele é encontrado de forma concentrada, em altíssimas quantidades, no xarope de milho, um adoçante barato muito utilizado pela indústria alimentícia, especialmente nos Estados Unidos (onde o estudo foi conduzido).

Aqui no Brasil, muitos produtos industrializados são adoçados com xarope de milho e, portanto, possuem altas quantidades de frutose. Entre eles, destacam-se os refrigerantes e os molhos prontos, como o catchup.

Além disso, vale lembrar: quando o açúcar mais popular aqui no Brasil – o açúcar de cana – é ingerido, nosso corpo quebra-o em glicose e frutose. Ou seja, ingerimos frutose em praticamente todos os doces que comemos.

 

ÔMEGA-3 PROTETOR

Salmon and vegetables on white plate
O salmão é um dos peixes com maior quantidade de ômega-3 (e DHA)

Uma boa notícia: os animais que ingeriram bastante DHA (o ácido graxo ‘do bem’) mostraram taxas normais de expressão gênica, e também não apresentaram problemas de memória em testes. Com isso, os cientistas acreditam que uma alimentação com bastante DHA pode ser uma maneira efetiva de combater os malefício do excesso de frutose.

“O cérebro e o corpo possuem uma maquinaria deficiente para produzir DHA; (ele) deve vir através da alimentação”, explicou Fernando Gomez-Pinilla, professor de Neurocirurgia e Biologia e Fisiologia Integrativa na Universidade UCLA, co-autor do trabalho científico.

O DHA (docosahexaenoico) é encontrado principalmente em peixes, como o salmão e a sardinha. Em menores quantidades, ele pode ser obtido em vegetais, frutas e sementes. Pesquisas anteriores já haviam mostrado que o DHA é um poderoso antioxidante, fortalece as sinapses cerebrais e melhora o aprendizado e a memória.

 

 

A partir dos dados do estudo, Fernando recomenda que as pessoas evitem tomar refrigerantes, diminuam a quantidade de sobremesas e, no geral, consumam menos açúcar e gorduras saturadas. “Os alimentos são como compostos farmacêuticos que afetam o cérebro”, afirmou o pesquisador. Por isso, cuidar com carinho do que comemos – e, em especial, evitar a tentação do açúcar – é um passo primordial para aumentar a qualidade de vida e conquistar uma saúde forte e duradoura.

 

Para saber mais: Qingying Meng et al. Systems Nutrigenomics Reveals Brain Gene Networks Linking Metabolic and Brain Disorders, EBioMedicine (2016). DOI: 10.1016/j.ebiom.2016.04.008

 

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