Por que passar um pouquinho de fome faz bem

Devemos comer do mesmo jeito que nossos ancestrais comiam, afirmam cientistas. Isto significa passar longos períodos (pelo menos 16 horas) sem ingerir nada de substancial.

O mundo está ficando cada vez mais “pesado”. Este é um fato notado há décadas, tendo em vista as epidemias globais de sobrepeso, obesidade e de doenças correlacionadas. Para entender os misteriosos motivos por trás deste excesso de peso na população, muitos pesquisadores criam hipóteses partindo do ponto de vista evolutivo.

A idéia é a seguinte: o organismo humano evoluiu, ao longo de centenas de milhares de anos, de acordo com os hábitos de alimentação de nossos antecedentes longínquos, hábitos estes que não têm nada a ver com a maneira com nós comemos hoje. Por isto – defendem estes cientistas – é que tanta gente está acima do peso: os hábitos alimentares modernos não são compatíveis com a maneira como nosso corpo foi “construído” para lidar com a comida.

Uma nova pesquisa acadêmica, conduzida por cientistas do National Institute on Aging de Baltimore, nos EUA, e publicada no prestigiado periódico Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), traz evidências que suportam a teoria evolutiva. Segundo os pesquisadores, todos nós deveríamos nos alimentar de maneira similar aos nossos antepassados.

Ou seja, nada de 3 grandes refeições por dia, mais lanchinhos. O certo, de acordo com a pesquisa, seria passar longos períodos sem comer nada e saciar-se à vontade quando finalmente chegar a hora de comer.

 

NOSSOS CORPOS FORAM MOLDADOS PELA ESCASSEZ

O trabalho publicado na PNAS revisou o que a Ciência sabe sobre hábitos alimentares modernos e de nossos antepassados, comparando-os com a maneira como mamíferos selvagens e humanos caçadores-coletores modernos se alimentam.

Diferente de nós, os mamíferos e os caçadores-coletores caçam poucas vezes por semana, alimentando-se fartamente quando conseguem uma presa. Depois, passam bastante tempo comendo pouco, até que a próxima caçada dê certo.

cacadores coletores antigos
Na época em que não existia agricultura, as caçadas eram a melhor maneira de conseguir alimentos substanciais – mas não era todo dia que elas davam certo…

Os cientistas argumentam que o corpo humano evoluiu exatamente neste contexto, de alimento abundante um dia e escasso nos dias seguintes. Por isso, o organismo desenvolveu mecanismos que retém ao máximo a energia que conseguimos adquirir das comidas.

Dentre estes mecanismos estão o acúmulo de gordura no tecido adiposo e o acúmulo de açúcar no fígado para liberação em períodos de jejum.

No mundo moderno, no qual alimentos cheios de gorduras e açúcares são baratos e fáceis de encontrar, estes mecanismos de economia de energia deixam de ser úteis à sobrevivência. Quando ativados, eles dificultam a perda de peso e colaboram para o sobrepeso e a obesidade.

 

EXPERIMENTOS QUE COMPROVAM A TEORIA DO BOM JEJUM

Para mostrar que uma dieta intermitente – isto é, que mescla períodos curtos de alimentação com outros longos de jejum – é mais saudável do que comer três vezes por dia, o time revisou pesquisas anteriores em humanos e animais.

Estudos com vermes, camundongos e macacos mostram uma clara associação entre restrição alimentar e aumento no tempo de vida. Alguns modelos animais sugerem que a dieta intermitente é capaz de parar (ou até mesmo reverter) o diabetes e alguns tipos de câncer.

camundongo alimentacao
Camundongos (e macacos, humanos, até vermes!) que passam por períodos de fome vivem mais.

Ainda, o grupo de pesquisadores dá destaque a pesquisas que mostram que adotar um regime que inclui períodos de jejum gera mudanças positivas no metabolismo. Dentre elas está a melhora na maneira como o corpo utiliza a insulina, um fator positivo na prevenção do diabetes.

“Descobertas recentes em estudos com modelos animais e humanos sugerem que períodos curtos (16 horas) intermitentes de restrição energética podem melhorar a saúde e ajudar a curar doenças”, escrevem os pesquisadores. “Enquanto os dados sobre freqüência e horários ótimos para a alimentação se cristalizam, será importantíssimo que novas estratégias sejam adotadas nos sistemas de saúde e na prática médica, levando em conta estas novidades”.

[quote_box_center]Mais informações sobre o trabalho em: Meal frequency and timing in health and disease, Mark P. Mattson, PNAS, DOI: 10.1073/pnas.1413965111[/quote_box_center]

2 COMENTÁRIOS

  1. Ótima informação! Devemos gastar aquilo que comemos para não estagnar dentro nosso corpo coisas desnecessárias como o excesso de algumas vitaminas, mnerais, gordura, proteína, fibra e carboidratos. Viver do básico é aparentemente bom e menos preocupante. Muitas industriais fazem propaganda para comermos mais dos produtos deles e sentirmos a necessidade daquilo. Seria interessante produzirem mais comidas saudáveis( sem substâncias)

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