Células-tronco e a cura do diabetes: verdades e mitos

Uma pesquisa realizada em Harvard envolvendo células-tronco tem feito a mídia proclamar que a “cura do diabetes” chegou. Entenda exatamente o que aconteceu.

O mundo inteiro anda em polvorosa com os resultados de uma pesquisa científica realizada na Universidade de Harvard, EUA, envolvendo células-tronco. Jornais dos quatro cantos do planeta anunciam a “cura do diabetes”. Pesquisadores famosos afirmaram que “trata-se da descoberta mais importante desde a invenção dos antibióticos”. Tantas reações extremas merecem uma explicação detalhada e realista. Afinal de contas, o que aconteceu na sexta-feira que deixou tanta gente tão animada?

 

A DESCOBERTA DE DOUGLAS MELTON

Cientistas de Harvard, liderados pelo pesquisador Douglas Melton, conseguiram, pela primeira vez, transformar células tronco humanas em células beta funcionais.

Há muito tempo grupos de pesquisa em todo o planeta tentam encontrar a fórmula certa para esta transformação. O que se sabia até esta sexta-feira era como gerar células beta não funcionais a partir de células tronco (ou seja, as células “se pareciam” com células beta, porém não funcionavam corretamente).

 

[quote_box_center]Para entender
Células tronco: são células humanas indiferenciadas, com o potencial de se transformar em outros tipos de células. A partir das mesmas células tronco, é possível criar, por exemplo, células do coração, cérebro ou células beta. Para que as células tronco “se transformem” em outros tipos celulares, é necessário “alimentá-las” com uma combinação superespecífica de moléculas. O desafio dos cientistas é encontrar qual a combinação correta para que elas se transformem nos tipos celulares desejados.
Células beta: são as células do pâncreas que produzem insulina e controlam a glicemia. Em diabéticos tipo 1, o sistema imune do corpo ataca estas células, diminuindo a produção natural de insulina e, assim, gerando o diabetes.[/quote_box_center]

 

RECEITA PARA O SUCESSO

Douglas Melton

Douglas e sua equipe descobriram a receita molecular que induz uma célula tronco humana (tanto embrionária quanto a de pluripotência induzida) a passar pelos vários estágios de desenvolvimento até se transformar em uma célula beta completa.

Tal receita foi um desafio enorme para a equipe, que testou centenas de combinações de moléculas até encontrar a fórmula mágica: acrescentar dois ou três fatores de crescimento de cada vez em um processo de seis passos, induzindo aos poucos a transformação de células indiferenciadas em células beta.

Segundo Douglas, as células beta geradas em laboratório “conseguem ler a quantidade de açúcar no sangue e, então, secretar a quantidade exata de insulina de maneira tão incrivelmente acurada que eu não acredito que isso será jamais reproduzido por injeções ou bombas de insulina”.

 

O QUE ISTO SIGNIFICA PARA DIABÉTICOS?

A descoberta alimenta grandes esperanças de que, em pouco tempo, diabéticos que hoje dependem de insulina poderão realizar um transplante de células beta funcionais.

Isto poderia eliminar a necessidade de injeções de insulina e possibilitar o controle natural da glicemia.

Com isto, o diabetes estaria, de fato, curado.

Se o transplante der certo em humanos, esta cena será parte da história.

O transplante também seria eficaz para diabéticos tipo 2 que utilizam insulina para controlar a glicemia.

 

QUANTO TEMPO ATÉ A DESCOBERTA VIRAR CURA?

“Pacientes me perguntam quando a cura chegará, e nada me toca mais do que meus próprios filhos, que perguntam isso o tempo todo”, disse Douglas em coletiva de imprensa. “Eu digo o seguinte: agora nós sabemos que podemos fazer estas células”.

As células beta de laboratório já foram testadas em camundongos diabéticos e funcionaram perfeitamente, ajudando a controlar a glicemia e eliminar o excesso de açúcar no sangue em apenas 10 dias. Os primeiros testes com primatas estão em fase de estudos.

O cientista explicou que os próximos passos incluem adequar o protocolo de geração das células beta a um padrão industrial, utilizando para isso sinais de indução altamente purificados. Somente assim as agências regulatórias governamentais aceitarão o uso das células em humanos. Douglas acredita que conseguirá fazer isso em cerca de um ano.

Depois disso, chegará a hora de escolher a melhor maneira de inserir as novas células beta no organismo dos diabéticos de maneira segura, garantindo que o sistema imune não as destrua. Métodos de proteção – como cápsulas especiais que permitem a passagem de nutrientes para alimentar as células novas, mas bloqueiam o ataque do sistema imune – são a grande aposta da equipe médica.

 

PAI DE FILHOS DIABÉTICOS

Além da curiosidade científica, o grande motivador dos trabalhos de Douglas Melton é o fato de que o pesquisador tem dois filhos com diabetes. Há 20 anos, seu primogênito era diagnosticado com diabetes tipo 1. Poucos anos depois, nasceu sua filhinha, também diabética.

Nesta época, Douglas decidiu deixar as pesquisas sobre desenvolvimento de sapos para se dedicar exclusivamente ao diabetes.

Duas décadas depois, o mundo inteiro agradece o empenho e a decisão do cientista. Uma pesquisa iniciada por amor aos filhos pode se tornar em sorrisos nos rostos dos mais de 380 milhões de diabéticos em todo o mundo.

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