Chocolate e Cacau: Aliados da Mente Saudável

Estudo científico analisa pesquisas sobre os benefícios do cacau para a saúde do cérebro. Veja aqui as principais observações.

 

É difícil encontrar alguém imune à ‘tentação’ do chocolate! Mas será que comê-lo é uma boa opção para a saúde?

Para a maior parte das pessoas, comer chocolate é uma delícia quase irresistível. Mesmo assim, estamos acostumados a ouvir bastante sobre as desvantagens de ingerir em exagero essa guloseima. O exagero é perigoso, sabemos, pois o alimento pode ser altamente calórico, conter enormes quantidades de açúcar, ser fonte riquíssima de gorduras…

Apesar de tudo isso ser verdade, componentes presentes no chocolate podem trazer, também, diversos benefícios para o corpo. Nos últimos anos, surgiram evidências de que esses benefícios se estendem até para a saúde do cérebro. Foram esses indícios que um grupo de pesquisadores das Universidades de Roma e de L’Aquila, na Itália, decidiu avaliar, com resultados surpreendentes.

Visto muitas vezes como um alimento ‘pobre’ em termos nutricionais, o chocolate pode ser uma rica fonte de nutrientes para o corpo – especialmente quando a quantidade de cacau na receita é alta.

Segundo o artigo, “O cacau é uma excelente fonte de flavonoides, uma classe de compostos naturais com benefícios comprovados à saúde. Eles já foram relacionados à melhora no controle de condições como o diabetes tipo 2, além de demonstrarem propriedades preventivas para diversas doenças cardiovasculares”. Recentemente, estudos apontaram os flavonoides – em especial os presentes no cacau e nos chocolates amargos – como tendo efeitos positivos também sobre a visão, o fluxo sanguíneo, as funções cardíacas e a memória.

 

REVISANDO OS BENEFÍCIOS DO CACAU PARA O CÉREBRO

Nesse estudo sobre o impacto do consumo de cacau no organismo, os pesquisadores italianos realizaram uma revisão da literatura científica para responder da melhor forma possível a duas perguntas:

  • o que acontece no corpo logo após ingerirmos cacau? e
  • o que acontece quando mantemos uma dieta rica em cacau durante um longo período de tempo?

Foram analisados oito grandes estudos sobre os efeitos do cacau, que incluíram quase 500 participantes, das mais diferentes faixas etárias e com perfis de saúde diferentes.

Apesar de experimentos que testam os efeitos de curto prazo do cacau serem esparsos, a grande maioria deles indica efeitos positivos em termos de cognição: os participantes geralmente mostram melhoras na memória de trabalho (aquela responsável por armazenar informações temporariamente) e no processamento de informações visuais.

A revisão também apontou benefícios especiais para as mulheres. Para elas, o cacau pode ajudar a neutralizar os efeitos cognitivos de uma noite de privação de sono. Mesmo tendo dormido pouco, mulheres que consumiam regularmente cacau mostraram precisão maior ao realizar tarefas do cotidiano. Esses resultados mostram que os flavonoides podem ser uma opção promissora na busca por novas formas de tratamento para quem tem dificuldade crônica em dormir.

 

BENEFÍCIO ATÉ A TERCEIRA IDADE

Os efeitos de longo prazo de uma dieta rica em cacau foram investigados com maior ênfase em idosos.

As pesquisas apontaram que fatores cognitivos como atenção, velocidade de processamento de informações, memória de trabalho e fluência verbal melhoraram significativamente em idosos que consumiam cacau todos os dias.

Os efeitos positivos foram ainda mais pronunciados em indivíduos que começavam a mostrar sinais de declínio cognitivo, como pequenos problemas de memória.

Para as autoras principais do estudo, as pesquisadoras Valentina Socci e Michele Ferrara, do Departamento de Ciências Clínicas Aplicadas e Biotecnológicas da Universidade de L´Aquila, esse resultado foi o mais inesperado – e, também, o mais promissor. “Esse efeito indica que os flavonoides do cacau têm potencial para serem utilizados como neuroprotetores em populações vulneráveis, por melhorarem a performance cognitiva”, escreveram as pesquisadoras.

“Se você olhar para os mecanismos por trás desses efeitos, verá que os flavonoides do cacau têm efeitos benéficos para a saúde cardiovascular e podem aumentar o volume de sangue em regiões do cérebro como o giro denteado do hipocampo”, explicam. “Essa estrutura é particularmente afetada pelo envelhecimento e, portanto, pode ser a fonte em potencial daquele declínio cognitivo, em termos de memória, que ocorre naturalmente com a idade”.

 

CHOCOLATE E CACAU: NEM SEMPRE SINÔNIMOS!

Será que os resultados desse estudo mostram, então, que devemos comer chocolate todos os dias para melhorar as funções do nosso cérebro?

Infelizmente, a resposta não é tão simples assim. O cacau é apenas um dos componentes do chocolate, e precisamos lembrar que as desvantagens de comer chocolate que citamos no início do texto continuam válidas, como ressaltam também as pesquisadoras.

“O consumo regular de cacau e chocolate pode, sim, gerar efeitos benéficos para a cognição no longo prazo”, comentam. “Há, entretanto, efeitos colaterais que precisam ser considerados. Estes, em geral, estão associados ao valor calórico do chocolate, a alguns compostos químicos inerentes do cacau – como a cafeína e a teobromina – e aos aditivos, como açúcar e leite”.

Para obter os benefícios dos flavonoides e minimizar as desvantagens do chocolate, uma opção é trocar a ingestão do chocolate ao leite tradicional pelos chocolates amargos. Isso porque as versões ‘amargas’ costumam conter porcentagem maior de cacau em sua composição – além, é claro, de quantidades reduzidas de açúcares.

O chocolate com alto teor de cacau é mais saudável que o chocolate ao leite, mas muita gente não gosta desse sabor amargo.

Para tentar ‘driblar’ o paladar, pesquisadores da Universidade da Carolina do Norte, nos EUA, desenvolveram, no final do ano passado, uma versão de chocolate ao leite enriquecida com extratos de cascas de amendoim. Com isso, a quantidade de flavonoides aumentou consideravelmente, ao mesmo tempo em que a doçura se manteve!

 

A melhor opção mesmo é ingerir chocolates com alta concentração de cacau. Hoje em dia, eles são fáceis de ser encontrados nos supermercados, e normalmente possuem estampado na embalagem, de forma bastante explícita, o teor de cacau (por exemplo: ‘60% de cacau’ ou ‘70% cacau’). Quanto maior o teor de cacau, mais amargo – e saudável – é o chocolate.

Dados os resultados do estudo, será difícil deixar de comer um pedacinho de chocolate amargo de vez em quando. As próprias pesquisadoras dizem que já estão colocando essa ideia em prática no dia a dia. “Chocolate amargo é uma rica fonte de flavonoides, então sempre comemos um pouquinho, todos os dias”, revelam.

 

PARA SABER MAIS

  • Enhancing Human Cognition with Cocoa Flavonoids. Socci V et al. Front. Nutr., 16 May 2017. DOI: 10.3389/fnut.2017.00019
  • Minimizing the Negative Flavor Attributes and Evaluating Consumer Acceptance of Chocolate Fortified with Peanut Skin Extracts. Dean LL et al. Journal of Food Science (2016). DOI: 10.1111/1750-3841.13533
  • Jeff C. Rabin et al. Effects of Milk vs Dark Chocolate Consumption on Visual Acuity and Contrast Sensitivity Within 2 Hours, JAMA Ophthalmology (2018). DOI: 10.1001/jamaophthalmol.2018.0978

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