Cresci ouvindo a história de que um dia meu pai amassou uma carteira de cigarro, depois de fumar 20 anos, e a jogou no lixo. Desde os idos de oitenta e xis, quando nasci, nunca o vi fumar. De porte atlético e sem perder o futebol de domingo, ele também deixou de beber quando eu tinha 10 anos.
Não sei se foram as endorfinas, a vontade de aplacar a ansiedade, o medo de engordar, mas, aos 57 anos, as partidas semanais viraram três. Ainda que ele tenha demorado a escolher o “vício do bem”, contou com a sorte de não estar entre as 5 milhões de pessoas que morrem por ano em todo o mundo por causa do cigarro, segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Sei que para muita gente não é só jogar a carteira de cigarro no lixo. Muitos buscam ajuda, procuram tratamento prolongado, tomam antidepressivos, ainda recaem. Não é fácil, mas as atividades físicas podem dar um forte empurrão. Principalmente a corrida. Por quê? Primeiro porque quem corre e fuma está, ao menos, reduzindo os riscos. Durante a prática de esporte, a nicotina pode ser metabolizada mais rapidamente, ficando menos concentrada no organismo. Além disso, o sistema cardiorrespiratório se fortalece. Por isso, mesmo com o maço de cigarro no bolso, o corredor sofre menos riscos que o sedentário fumante. Segundo porque, com o tempo, a atividade pode ajudar o tabagista a perceber a necessidade de abandonar o cigarro. Pelas mudanças que a corrida traz ao praticante – emocionais e fisiológicas -, por si própria a pessoa se dá conta dos hábitos que devem ser priorizados.
Para quem já largou o cigarro e precisa dar um jeito na ansiedade ou não ganhar peso, a corrida também serve. Se a nicotina ativa neurotransmissores capazes de causar bem-estar e relaxamento, o esporte também tem esse dom. E por isso essa substituição dá tão certo. A mente não apenas se distrai como também é tomada pela liberação de endorfinas.
Já muitos têm medo de parar de fumar e ganhar peso. Não somente o paladar melhora como a ansiedade faz com que se aumente a ingestão de doce (outro culpado por inundar o cérebro de substâncias responsáveis por relaxamento, mas que, em excesso, pode trazer riscos à saúde).
Ontem, Dia Nacional de Combate ao Fumo, lembrei que já provei cigarro e, como muitos jovens, também tive minha fase “ah, só fumo quando eu saio à noite”.
Meu pai já não era vivo (morreu em um acidente, aos 75 anos, forte de saúde) e não me viu escolher o meu próprio vício do bem. Faz tempo que não “brinco” de fumar. Há cinco anos com forte presença na minha vida, a corrida tirou minha vontade de arriscar um hábito que, por leviandade, podia ter se instalado e me levado a sérios riscos de saúde.