É bastante comum sairmos de casa e observarmos diversas pessoas acima da sua faixa ideal de peso, não é? Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o número de pessoas com obesidade ao redor do planeta triplicou nas últimas três décadas e, embora antes considerada um problema predominantemente enfrentado por países desenvolvidos, sua prevalência tem aumentado significativamente em países em desenvolvimento, como o Brasil. Mas por que isso aconteceu? Esse aumento pode ser atribuído, pelo menos parcialmente, a um aumento no consumo de alimentos altamente calóricos e um estilo de vida sedentário, fruto do processo de urbanização.
De acordo com a OMS, o sobrepeso e a obesidade podem ser definidos por um acúmulo excessivo de gordura que pode afetar a saúde do indivíduo. O índice de massa corporal (IMC) pode ser usado para determinar o grau de obesidade. Indivíduos com sobrepeso são aqueles classificados com valores de IMC entre 25 e 29,9 kg/m2, enquanto a obesidade é caracterizada por valores de IMC superiores a 30 kg/m2.
A obesidade anda na contramão da qualidade de vida das pessoas, uma vez que está comumente associada a outras doenças como o Diabetes Mellitus do tipo 2, hipertensão arterial, dislipidemia, aterosclerose, doenças hepáticas e alguns tipos de câncer. Além das comorbidades descritas acima, o excesso de peso também leva a alterações em nosso sistema respiratório. As principais mudanças acontecem na mecânica respiratória, na resistência da passagem de ar pelas vias aéreas, na quantidade de vezes que respiramos em um determinado período de tempo e nas trocas gasosas em nossos pulmões.
Como a obesidade afeta o nosso sistema respiratório?
Dependendo do local onde o nosso corpo acumula gordura, nós podemos estar mais ou menos expostos as complicações respiratórias. A obesidade, de maneira simples, pode ser dividida em dois tipos: a obesidade periférica e a obesidade central. A obesidade periférica, que é caracterizada pelo acúmulo de gordura predominantemente subcutâneo, parece não apresentar muitos riscos ao sistema respiratório. Por outro lado, a obesidade central tem como característica o acúmulo de gordura na região torácica e abdominal, o que foi associado à redução no volume dos pulmões, à resistência da musculatura respiratória e a prejuízos na contração diafragmática que é responsável pela expansão dos pulmões.
Obesidade e desordens respiratórias
As alterações no sistema respiratório induzidas pela obesidade, contribuem fortemente para o surgimento de doenças respiratórias. Entre as principais, destacam-se:
- Apneia obstrutiva do sono
- Síndrome da hipoventilação na obesidade
- Asma
- Hipertensão Pulmonar
- Doença obstrutiva pulmonar crônica
A apneia obstrutiva do sono é um distúrbio respiratório bastante comum em pessoas com obesidade. Ela é caracterizada por episódios de colapso e o consequente bloqueio da passagem de ar pelas vias aéreas superiores devido a incapacidade da musculatura da faringe em manter tais vias desobstruídas. Com os episódios de obstrução da passagem de ar, os indivíduos podem apresentar redução da oxigenação do sangue e aumento na quantidade de gás carbônico circulante. Essas alterações levam, por sua vez, a um aumento no esforço respiratório e a prejuízos na qualidade do sono. As consequências dessa doença podem ser graves e merecem cuidado. Entre elas destacam-se: distúrbios neuropsiquiátricos, arritmias cardíacas, hipertensão arterial pulmonar, hipertensão arterial sistêmica, doença da artéria coronária e acidente vascular cerebral.
A síndrome da hipoventilação na obesidade compartilha algumas características com a apneia obstrutitva do sono, uma vez que também se observa a presença de obesidade e hipoxemia (redução da oxigenação do sangue), porém, indivíduos com essa doença também apresentam hipoventilação diurna (quantidade insuficiente de ar que circula nos pulmões). Assim como na apneia do sono, a síndrome da hipoventilação está relacionada ao surgimento de outras complicações, tais como: hipertensão arterial pulmonar, disritmia cardíaca e falhas na função do lado direito do coração.
A asma é considerada uma doença crônica das vias aéreas. É caracterizada por episódios de obstrução reversível, inflamação e sensibilidade excessiva do sistema respiratório. Assim como a obesidade, o número de indivíduos com asma aumentou muito nas últimas décadas, sugerindo uma possível relação entre as duas condições.
A hipertensão pulmonar primária (HPP) pode ser caracterizada pela elevação da pressão sobre as paredes das artérias pulmonares que resultam em prejuízo no fluxo sanguíneo nessa região. A HPP foi considerada por muito tempo uma doença que acometia mulheres jovens. Entretanto, estudos mostraram que o número de pessoas com sobrepeso e obesidade que desenvolveram HPP aumentou muito nos últimos anos.
A doença obstrutiva pulmonar crônica (DOPC) inclui diferentes tipos de patologias, como a bronquite crônica e enfisema, e é caracterizada pela limitação do fluxo de ar que não é completamente reversível. Estudos mostraram que pessoas com DOPC tem maiores chances de se tornarem obesos, uma vez que, devido a dificuldades na prática de atividade física, tendem a adotar um estilo de vida sedentário.
A redução no peso corporal pode ajudar?
Como podemos melhorar os sintomas observados nas diferentes doenças respiratórias? Embora existam diferentes tipos de tratamentos, a redução no peso corporal e do acúmulo de gordura foi associado à melhora da função pulmonar (aumento do volume dos pulmões), da função da musculatura respiratória, da tolerância ao exercício físico, da qualidade do sono, e à redução na sonolência diurna.
Portanto, estratégias que visem a redução do peso e da adiposidade, tais como, a melhoria do sono, o aumento na prática de atividade física, a redução no consumo de calorias e de produtos industrializados, o aumento da ingestão de alimentos saudáveis e melhorias da sua condição psicossocial podem apresentar grande potencial para significativamente reduzir a taxa de mortalidade associada às doenças respiratórias.
Referências:
- World Helth Organization: Obesity and Overweight. (https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/obesity-and-overweight).
- Murugan, A. T. and G. Sharma (2008). “Obesity and respiratory diseases.” Chron Respir Dis 5(4): 233-242.
- Zammit, C., et al. (2010). “Obesity and respiratory diseases.” Int J Gen Med 3: 335-343.