Obesidade na infância: quais as consequências?

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É cada vez maior o número de crianças com obesidade, principalmente em países de renda baixa ou média, como o Brasil (1). Vivemos em uma sociedade obesogênica, que tem estimulado nossas crianças a praticarem menos atividade física, ficarem horas nas telas dos celulares, terem privação de sono e elevado consumo de alimentos ultraprocessados, como bebidas açucaradas e salgadinhos de pacote, de fácil acesso, baixo custo e marketing agressivo (1, 2). Durante a pandemia, o problema foi ainda mais agravado pelo acesso limitado aos alimentos saudáveis e menor poder de compra da nossa população (1).

A criança com obesidade pode desenvolver alterações em diversos órgãos e sistemas a curto, médio e longo prazo, dependendo do tempo de instalação e da gravidade da obesidade (2). Crianças com obesidade, apresentam maior risco de se tornarem adultos jovens com diabetes tipo 2, alguns tipos de câncer e doenças cardiovasculares (3). Contudo, as alterações físicas e de ordem psicossocial podem surgir já na infância, com graves prejuízos para a qualidade de vida dos pequenos. Em crianças com excesso de peso e obesidade, estudos tem demonstrado maior chance de ansiedade, depressão (4) e piores condições física e cardiorrespiratória (5). Há também maior risco para o desenvolvimento de cáries nos dentes, doenças periodontais (6) e asma (7). Para as meninas, a obesidade pode antecipar a menarca e trazer prejuízos na sua estatura final. Para os meninos, a obesidade pode atrasar o processo de maturação sexual (8).

Se há maior acúmulo de gordura na região abdominal, fenômeno que chamamos de obesidade abdominal, há maior risco de complicações cardiometabólicas, como alteração nos níveis sanguíneos de colesterol e glicemia, e alteração na pressão arterial. E isso pode ocorrer já durante o período da infância (9). Para monitoramento da obesidade abdominal, há uma mensagem de saúde pública vem sendo divulgada por pesquisadores da área nos últimos anos: “mantenha sua circunferência da cintura menor do que a metade de sua estatura”, e isso vale para qualquer faixa etária, incluindo as crianças. Basta medir a estatura com uma fita métrica ou até mesmo usando um barbante; na sequência, a fita deve ser dobrada ao meio e posicionada na altura da circunferência da cintura. Se estiver sobrando fita, é um bom sinal, sugere que não há gordura em excesso no abdome. Caso a relação cintura-altura esteja acima de 0,5, acende um alerta sugerindo acúmulo aumentado de gordura na região do abdome (10).

A obesidade na infância precisa de atenção por parte dos cuidadores da criança e requer constante vigilância e acompanhamento em saúde. O tratamento da obesidade em crianças tem como objetivo reduzir o excesso de gordura corporal, melhorar as complicações físicas, metabólicas, psicossociais e prevenir o desenvolvimento de doenças crônicas. O tipo e a intensidade do tratamento dependem da gravidade da obesidade, da idade e do estágio de desenvolvimento de cada criança, bem como das necessidades do paciente e da família. O tratamento deve ser ministrado por profissionais de saúde da área de pediatria, devidamente qualificados, que ofereçam uma abordagem comportamental, humana, não estigmatizante, tendo a criança no centro do cuidado terapêutico (2).

 

Referências bibliográficas

  1. Três em cada dez crianças e adolescentes na América Latina e no Caribe têm excesso de peso. UNICEF,2021.Disponível em:< https://www.unicef.org/brazil/comunicados-de-imprensa/tres-em-cada-dez-criancas-e-adolescentes-na-america-latina-e-no-caribe-tem-excesso-de-peso#:~:text=Cidade%20do%20Panam%C3%A1%2C%2013%20de,excesso%20de%20peso%20na%20regi%C3%A3o> Acesso em: 21 de mar. de 2023.
  2. Jebeile H, Kelly AS, O’Malley G, Baur LA. Obesity in children and adolescents: epidemiology, causes, assessment, and management. Lancet Diabetes Endocrinol. 2022 May;10(5):351-365. doi: 10.1016/S2213-8587(22)00047-X.
  3. Horesh A, Tsur AM, Bardugo A, Twig G. Adolescent and Childhood Obesity and Excess Morbidity and Mortality in Young Adulthood-a Systematic Review. Curr Obes Rep. 2021 Sep;10(3):301-310. doi: 10.1007/s13679-021-00439-9.
  4. Rao WW, Zong QQ, Zhang JW, An FR, Jackson T, Ungvari GS, Xiang Y, Su YY, D’Arcy C, Xiang YT. Obesity increases the risk of depression in children and adolescents: Results from a systematic review and meta-analysis. J Affect Disord. 2020 Apr 15;267:78-85. doi: 10.1016/j.jad.2020.01.154.
  5. Tsiros MD, Tian EJ, Shultz SP, Olds T, Hills AP, Duff J, Kumar S. Obesity, the new childhood disability? An umbrella review on the association between adiposity and physical function. Obes Rev. 2020 Dec;21(12):e13121. doi: 10.1111/obr.13121.
  6. Thang Le VN, Kim JG, Yang YM, Lee DW. Risk Factors for Early Childhood Caries: An Umbrella Review. Pediatr Dent. 2021 May 15;43(3):176-194.
  7. Deng X, Ma J, Yuan Y, Zhang Z, Niu W. Association between overweight or obesity and the risk for childhood asthma and wheeze: An updated meta-analysis on 18 articles and 73 252 children. Pediatr Obes. 2019 Sep;14(9):e12532. doi: 10.1111/ijpo.12532.
  8. Reinehr T, Roth CL. Is there a causal relationship between obesity and puberty? Lancet Child Adolesc Health. 2019 Jan;3(1):44-54. doi: 10.1016/S2352-4642(18)30306-7.
  9. Ross R, Neeland IJ, Yamashita S, Shai I, Seidell J, Magni P, Santos RD, Arsenault B, Cuevas A, Hu FB, Griffin BA, Zambon A, Barter P, Fruchart JC, Eckel RH, Matsuzawa Y, Després JP. Waist circumference as a vital sign in clinical practice: a Consensus Statement from the IAS and ICCR Working Group on Visceral Obesity. Nat Rev Endocrinol. 2020 Mar;16(3):177-189. doi: 10.1038/s41574-019-0310-7.
  10. Browning LM, Hsieh SD, Ashwell M. A systematic review of waist-to-height ratio as a screening tool for the prediction of cardiovascular disease and diabetes: 0·5 could be a suitable global boundary value. Nutr Res Rev. 2010 Dec;23(2):247-69. doi: 10.1017/S0954422410000144.

 

 

SOBRE O AUTOR:

Ana Carolina Junqueira Vasques
Graduada em Nutrição pela Universidade Federal de Viçosa (2006), Mestre em Ciência da Nutrição pela Universidade Federal de Viçosa (2008), Doutora em Clínica Médica pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (2013). Pesquisadora associada do Centro de Pesquisa em Obesidade e Comorbidades da UNICAMP (OCRC – Obesity and Comorbidities Research Center).Interesse em pesquisa nos temas: estudos epidemiológicos, clínicos e de implementação para investigar os aspectos nutricionais e fisiopatológicos da obesidade per se e no contexto da síndrome metabólica em humanos. Estudo, desenvolvimento e validação de ferramentas para a prática em avaliação nutricional e metabólica.

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