Não é novidade para ninguém que a alimentação saudável contribui diretamente para o crescimento adequado das crianças. Mas você sabia que os hábitos alimentares são de extrema importância para a construção do conhecimento nessa fase da vida?
Não seria exagero dizer que o processo de aprendizado começa no estômago por meio de uma alimentação rica em nutrientes, que engloba todos os grupos alimentares. Tanto é verdade que as escolas públicas do nosso país contam com o Programa Nacional de Alimentação Escolar, o PNAE, que, com o oferecimento de refeições durante o período de estudo da criança, favorece esse processo, evitando que a falta de alimento contribua para a dispersão dos alunos durante a aula. Somente com o fornecimento de energia suficiente, garantindo a quantidade adequada de glicose para o cérebro e a exclusão de situações de desconforto como a fome, é que a aprendizagem ocorrerá de maneira efetiva.
Além disso, uma alimentação com quantidades adequadas de fontes proteicas e ômega 3, gordura essencial encontrada principalmente nos peixes, contribui diretamente para um bom desempenho escolar. O baixo consumo de proteínas impacta no desenvolvimento cerebral reduzindo seu volume e prejudicando a formação de neurotransmissores, substâncias essenciais para a comunicação adequada do cérebro com o resto do corpo. Já o consumo de ômega 3 se associa positivamente com a memória e com o bom funcionamento cerebral, sendo benéfica a inclusão desses macronutrientes na alimentação da criança.
Estudos demonstram também o efeito das vitaminas e minerais, com destaque para ferro, zinco, folato, vitamina A e vitaminas do complexo B, nas habilidades cognitivas, devido a sua influência sobre diversos processos cerebrais como regulação das vias dos neurotransmissores, transmissões sinápticas, fluidez da membrana e vias de transdução de sinais, permitindo que a função cerebral seja otimizada durante o processo de aprendizado. Nesse sentido, uma alimentação para esse fim deve ser variada com a inclusão de todos os grupos alimentares e com especial atenção para o grupo das carnes, leites e derivados, frutas, legumes e verduras, para garantir que a recomendação para esses micronutrientes seja atingida.
Por outro lado, a dieta ocidental rica em açúcar e gordura saturada parece exercer efeito negativo sobre o aprendizado e a memória, devendo ser limitado, portanto, o consumo de alimentos industrializados, como suco de caixinha, refrigerante, salgadinho, bolacha recheada e doces.
Como regra geral, um padrão alimentar com bom aporte de frutas, verduras, leites e derivados, carnes e ovos, feijão e fontes de carboidrato, como arroz e macarrão, em conjunto com o baixo consumo de alimentos industrializados, deve ser encorajado, pois fornecerá quantidade suficiente de macronutrientes, vitaminas e minerais, contribuindo tanto para o desenvolvimento cognitivo quanto para o crescimento da criança.
Para finalizar, vamos a algumas dicas práticas que ajudar na adoção de hábitos alimentares saudáveis nos nossos pequenos:
- Realização de 5 a 6 refeições diárias (café-da manhã, lanche da manhã, almoço, lanche da tarde, jantar e ceia);
- A alimentação deve ser variada incluindo todos os grupos alimentares, conforme orientado pela pirâmide alimentar (abaixo)
- Evitar o consumo de balas, refrigerantes e guloseimas;
- Consumo diário e variado de pelo menos 5 porções de frutas, verduras e legumes;
- Consumo de peixes duas vezes por semana;
- Consumo diário de 3 porções de leite e seus derivados;
- Evitar a substituição de refeições por lanches e alimentos industrializados;
Referências bibliográficas:
- GÓMES-PINILLA F. Brain foods: the effects of nutrients on brain function. Nat Rev Neurosci, v.9, n.7, p.568-578, 2008.
- BLEIWEISS-SANDE R. at al. Associations between Food Group Intake, Cognition and Academic Achievement in Elementary Schoolchildren. Nutrients. 11 (11):2722, 2019.
- JIROUT J. et al. How lifestyle factors affect cogninitive and executive function and the ability to learn in Children.
- SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA – DEPARTAMENTO DE NUTROLOGIA Manual de Alimentação: orientações para a alimentação do lactente ao adolescente na escola, na gestante, na prevenção de doenças e segurança alimentar/Sociedade Brasileira de Pediatria. Departamento Científico de Nutrologia. -4º Ed. – São Paulo: SBP, 2018. 172p.
Sobre a autora:
Maria Eduarda Martelli – Nutricionista e Mestra em Ciências da Nutrição do Esporte e metabolismo (FCA-UNICAMP), Doutoranda em Clínica Médica (FCM-UNICAMP) e aluna do Laboratório de Investigação do Metabolismo e Diabetes, vinculado ao Centro de Pesquisa em Obesidade e Comorbidades. Atua em pesquisa clínica na área de obesidade e suas complicações metabólicas com foco no tecido adiposo marrom.