Diabetes e exercício físico

O exercício físico é um fator fundamental para a prevenção e o tratamento do diabetes, reduzindo os riscos de desenvolvimento das possíveis complicações que a doença pode causar.

Caracterizada pelo aumento da glicemia (glicose circulante no sangue), o diabetes mellitus é, hoje, uma das principais doenças que afetam nossa sociedade. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, cerca de 422 milhões de pessoas são afetadas pela diabetes, sendo o Brasil o 5º país mais incidente.

Como o diabetes se desenvolve?

A glicose é o principal nutriente utilizado pelo nosso organismo para a produção de energia. Entretanto, em nosso organismo, a entrada de glicose nas células é regulada pela ação do hormônio insulina. Após nos alimentarmos, os níveis de glicose no sangue se elevam naturalmente e, com isso, o pâncreas responde com liberação de insulina para que a glicose possa entrar nas células. 

Ao se comunicar com seus receptores nas células, a insulina desencadeia uma série de reações que termina com a disponibilidade de GLUT4 (proteína responsável por captar a glicose) na superfície da célula, diminuindo assim a quantidade de glicose circulante. Além disso, a insulina atua no fígado (o principal regulador do nosso metabolismo) impedindo que ele libere mais glicose na corrente sanguínea.

No diabetes, podemos ter problemas na produção e/ou liberação da insulina, ou, ainda, na ação do hormônio. Seja qual for o problema, o que se observa é o aumento de glicose na corrente sanguínea (glicemia). Assim, a glicose em excesso pode ser transformada em Produtos Finais de Glicosilação (AGE’s, do inglês Advanced Glycation End-products), que promovem um estado de inflamação crônico responsável pelas principais complicações da doença (como alterações da visão, perda de sensibilidade, problemas cardiovasculares, etc).

O exercício como tratamento para diabetes

Os nossos músculos estão entre os principais tecidos que utilizam a glicose como fonte de energia. Em indivíduos saudáveis, quando há excesso de glicose, os músculos armazenam a glicose na forma de glicogênio. Durante atividades físicas de alta intensidade e curta duração (como corridas de 100m, por exemplo), os músculos utilizam esse glicogênio armazenado. 

Entretanto, em atividades de média intensidade e média duração, os músculos começam a utilizar a glicose da corrente sanguínea como fonte de energia. Estudos publicados nos jornais de Medicina do Esporte têm demonstrado que, durante os exercícios físicos, nossos músculos ativam outras vias para a captação de glicose, sendo a principal delas a via da AMPK. Além disso, os exercícios também são responsáveis por diminuir, temporariamente, a resistência dos órgãos à ação da insulina. Dessa forma, além de aumentar a captação de glicose, os exercícios são responsáveis por inibirem a ação do fígado em liberar mais glicose para o sangue.

Qual exercício é melhor para o controle do diabetes?

Os estudos atuais e a American Diabetes Association (ADA) recomendam uma combinação entre exercícios aeróbicos (como caminhada, ciclismo, etc) e musculação. Os exercícios aeróbios, quando realizados por pelo menos 30 minutos por dia, melhoram a capacidade do coração em captar oxigênio, reduzindo os riscos de desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Por outro lado, os exercícios de musculação são responsáveis por aumentar a massa muscular e, consequentemente, melhoram a captação de glicose e auxiliam na redução da resistência à insulina. Quando estão associadas, as duas formas de exercícios melhoram os resultados uma da outra e, portanto, atualmente recomenda-se a combinação entre os métodos.

Além dos exercícios físicos, uma mudança na dieta é indicada para pacientes com diabetes para melhorar o controle glicêmico e prevenir as possíveis complicações da doença. Entretanto, apesar de serem aspectos elementares no tratamento, essas medidas devem ser auxiliares ao tratamento medicamentoso discutido com o médico. O tratamento adequado do diabetes é fundamental para garantir que sua qualidade de vida seja mantida.

 

Referências:

Kirwan JP, Sacks J, Nieuwoudt S. The essential role of exercise in the management of type 2 diabetes. Cleve Clin J Med. 2017 Jul;84(7 Suppl 1):S15-S21. doi: 10.3949/ccjm.84.s1.03. PMID: 28708479; PMCID: PMC5846677.

Sampath Kumar A, Maiya AG, Shastry BA, Vaishali K, Ravishankar N, Hazari A, Gundmi S, Jadhav R. Exercise and insulin resistance in type 2 diabetes mellitus: A systematic review and meta-analysis. Ann Phys Rehabil Med. 2019 Mar;62(2):98-103. doi: 10.1016/j.rehab.2018.11.001. Epub 2018 Dec 13. PMID: 30553010.

Pan B, Ge L, Xun YQ, Chen YJ, Gao CY, Han X, Zuo LQ, Shan HQ, Yang KH, Ding GW, Tian JH. Exercise training modalities in patients with type 2 diabetes mellitus: a systematic review and network meta-analysis. Int J Behav Nutr Phys Act. 2018 Jul 25;15(1):72. doi: 10.1186/s12966-018-0703-3. PMID: 30045740; PMCID: PMC6060544.

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SOBRE O AUTOR:

Wesley Fernando Sales
Graduando em Medicina na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Atua na área de Educação e Difusão do Conhecimento (EDC) do CEPID OCRC através do Programa de Bolsa Auxílio do Serviço de Apoio ao Estudante (SAE).

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