Quantos passos você dá por dia? Estudo global revela ‘ranking’ dos países mais ativos e sedentários – o brasileiro anda meio parado.
Estima-se que mais de 5 milhões de pessoas morrem todos os anos de causas associadas à falta de atividade física – ou seja, por motivos que poderiam ser prevenidos. É um número assustadoramente alto, mas difícil de ser reduzido. Pesquisadores do mundo inteiro buscam, com a ajuda da Ciência, por soluções para este impactante problema de saúde pública – esta, inclusive, é uma das principais áreas de atuação do CEPID OCRC.
Nesse sentido, o maior estudo sobre atividade física já feito no mundo divulgou seus resultados em meados do último ano – e trouxe, a partir de teorias estatísticas e econômicas, ideias interessantes para tentar reverter os altíssimos índices de sedentarismo no mundo.
SMARTPHONES PARA ‘MEDIR’ O SEDENTARISMO
As bases das conclusões foram os dados coletados de mais de 700 mil pessoas, de 111 países. Elas haviam se cadastrado em um aplicativo gratuito para smartphones chamado Argus, desenvolvido pela Azumio (aqui no Brasil, ele pode ser encontrado nas app stores com o nome de ‘Contador de Calorias e Passos’ – encontre o link ao final do texto). Entre outros parâmetros, o app registra informações relativas ao movimento de cada usuário, como o número de passos dados por dia, e oferece ‘desafios’ para estimular uma vida mais ativa.
Quase todos os donos de smartphones carregam constantemente os aparelhinhos, seja no bolso da calça, seja em bolsas. Assim, os telefones se tornaram o instrumento ideal para medir hábitos de vida, como a quantidade de passos dada durante um dia.
No total, foram analisadas informações referentes a 68 milhões de dias, com dados, minuto a minuto, da quantidade de passos que cada pessoa dava diariamente.
A pesquisa, realizada por cientistas das Universidades de Stanford e São Francisco, nos Estados Unidos, foi publicada na edição de julho/17 do respeitado periódico Nature.
A análise foi elaborada com base no índice de disparidade em atividades físicas que considera a média dos passos contados pelo indivíduo em função da constância na realização de atividades físicas. Foi constatado que os países com maiores índices de disparidade em atividades físicas, isto é, onde uma pequena quantidade de indivíduos praticam muita atividade física, baseada na média diária de passos, e onde há uma grande quantidade de pessoas que se movimentam pouco diariamente, são também países com elevados índices de obesidade. O estudo também demonstrou que as mulheres se movimentam significativamente menos que os homens. Além disso, fica claro que cidades com planejamento urbano que facilitam percursos a pé, com calçadas de qualidade e espaços públicos para a prática de atividade física, contribuem para reduzir o índice de disparidade em atividades e consequente redução da obesidade populacional.
O Brasil aparece nas últimas colocações quando avaliada a média de passos diária – 4289 passos, bem distante dos acelerados chineses de Hong Kong – 6880 passos.
Vale ressaltar que os dados da pesquisa internacional foram coletados a partir de Smartphones do tipo iPhone, portanto os resultados para nosso país podem estar super ou subestimados se considerarmos o Brasil consome majoritariamente smartphones que utilizam a plataforma Android.
De qualquer forma, o Smartphone demonstrou ser uma potente ferramenta para coleta de dados populacionais e veículo capaz de estimular a prática de atividade física. Em nosso corpo de pesquisadores do OCRC, o Professor Camilo de Lellis Santos, da Universidade Federal de São Paulo, tem se dedicado a desenvolver práticas de ensino que estimulem a realização e análise de atividades físicas por alunos do ensino básico e universitário. Em artigo publicado na revista Medical Education, seu grupo de pesquisa desenvolveu um protocolo de aula prática em fisiologia do exercício que aplicou recursos dos smartphones para análise de dados fisiológicos de alunos de graduação.
Ao que tudo indica, a mesma tecnologia capaz de gerar sedentarismo pode ser a grande aliada para combater a epidemia de obesidade global.
PARA SABER MAIS
- Althoff T et al. Large-scale physical activity data reveal worldwide activity inequality. Nature 547, 336–339 (2017). doi:10.1038/nature23018.
- Nadal, R. & Lellis-Santos, C. Using smartphones to learn exercise physiology. Medical Education 49, Issue 11, 1162-1163 (2015). doi: 10.1111/medu.12877.
- APP Azumio
- Camilo Lellis-Santos
- www.ocrc.org.br