Você já ouviu falar da curcumina? Talvez o nome pareça estranho, mas com certeza você já experimentou seu sabor. Um dos corantes mais comuns utilizados na indústria alimentícia, presente desde sorvetes até o molho curry, a curcumina é uma substância extraída da raiz do açafrão-da-índia (também conhecido por cúrcuma). Geralmente é encontrada à venda na forma de um pó amarelado.
Há mais de 4 mil anos a curcumina é utilizada no Oriente como medicamento popular. Apenas nas últimas décadas é que a fama curadora chegou deste lado do mundo. As propriedades anti-inflamatórias são bem conhecidas, porém começou a circular a idéia de que a substância seria um potente tratamento natural contra diversos tipos de câncer.
Será que é verdade? O que a Ciência tem a nos dizer sobre o poder da curcumina na saúde?
NOVIDADE ANTI-CÂNCER
A última edição da revista científica Molecules traz uma revisão do que se sabe, até hoje, sobre as propriedades da curcumina.
A conclusão é a de que a substância é, de fato, um meio seguro e eficaz de tratar vários tipos câncer e doenças causadas por inflamações.
O segredo da curcumina parece ser sua abrangência. De acordo com a literatura científica, ela é capaz de modular um grande número de genes relacionados aos cânceres.
Em comunicados à imprensa, o pesquisador Gautam Sethi, da Universidade Curtin, na Austrália, e um dos principais autores do novo estudo, explicou que o câncer resulta da desregulação de vários genes ao mesmo tempo. Os medicamentos para tratar a doença, até hoje, costumam atacar apenas um alvo molecular no corpo, por isso nem sempre são efetivos. A curcumina, por sua vez, seria capaz de proteger o corpo contra alterações em um número grande de genes, sendo, assim, bastante efetiva no combate à doença.
CURCUMINA: A BASE NATURAL PARA MEDICAMENTOS NO FUTURO
Apesar dos bons resultados em testes clínicos, precisamos aprender mais sobre como lidar com a curcumina antes que ela se torne um medicamento anti-câncer, dizem os pesquisadores.
Em primeiro lugar, é bom ter em mente que ela se mostrou eficaz contra diversos tipos da doença – como mielomas múltiplos e câncer pancreático -, porém de ação limitada ou nula em outros – como o câncer de mama.
Além disso, a interação da substância com agentes quimioterápicos nem sempre é boa. Os efeitos da ciclofosfamida, por exemplo, são anulados pela curcumina.
Portanto, a meta dos cientistas, agora, é analisar cuidadosamente quais tipo de câncer são afetados pela curcumina, assim como estudar a interação da substância natural com os tratamentos sintéticos já existentes.
Alguns trabalhos anteriores indicaram que a curcumina em excesso pode ser prejudicial à saúde. Pesquisas brasileiras, inclusive, apontam para tal perigo (leia mais sobre o assunto aqui). Nesta última revisão, porém, os pesquisadores afirmam que isto não vem ao caso. A curcumina é segura, garantem os cientistas, mesmo em doses elevadas.
Isto porque, nos seres vivos, a substância é absorvida muito rapidamente pelo corpo, o que “dilui” seus efeitos – tanto os benéficos quanto os possivelmente tóxicos. Por isso, afirmam os pesquisadores, caso no futuro se receite comer mais curcumina por motivos medicinais, possivelmente deverá ser indicado também que se ingira alguma outra molécula que ajude a aumentar sua vida útil no corpo. Substâncias presentes na pimenta parecem ser ótimas candidatas.
“A curcumina tem se mostrado uma molécula segura e promissora na prevenção e tratamento não só do câncer, mas também de outras doenças relacionadas à inflamação”, escrevem os pesquisadores.
Ao longo dos últimos 30 anos, os números tanto de incidência quanto de mortalidade por câncer pouco mudaram, apesar de novíssimos tratamentos e métodos clínicos terem surgido. A curcumina não é uma panaceia – um remédio milagroso e barato que curará todos os males -, porém representa uma esperança de que, com mais estudos, uma maneira nova e natural de tratar o câncer pode ser desenvolvida. A Ciência progride em seus trabalhos e fornece bases sólidas para acreditar que, por incrível que pareça a muita gente, o conhecimento popular de 4 mil anos atrás por ter, sim, sua boa dose de razão.