por Albina F. S. R. Garcia*
A Organização Mundial de Saúde estima que mais de 40% da população mundial está acima do peso. Sobrepeso e obesidade favorecem o desenvolvimento de doenças como a hipertensão e o diabetes tipo 2.
Nos últimos anos, surgiram diversas pesquisas relacionando as alterações entre a composição da microbiota intestinal e o aumento no risco de desenvolver obesidade. A microbiota é um conjunto de microorganismos, especialmente bactérias, que vivem em várias regiões do corpo sem provocar doenças. Segundo vários pesquisadores, a presença de alguns microorganismos específicos na microbiota intestinal poderia favorecer o desenvolvimento de diversas doenças, entre elas a obesidade. Quando um indivíduo apresenta mais bactérias do gênero Firmicutis em sua microbiota intestinal, há maior probabilidade de o mesmo se tornar obeso, enquanto indivíduos com números aumentados de bactérias do gênero Bacteroidetes tendem a ser mais magros.
Da mesma forma, diversos estudos mostram o papel benéfico de alimentos (chamados funcionais) na manutenção do funcionamento do organismo, prevenindo o aparecimento de diversas doenças.
E o que isso tem a ver com os prebióticos e probióticos?
O QUE SÃO OS PREBIÓTICOS E OS PROBIÓTICOS?
Alimentos prebióticos são grupos de alimentos (particularmente fibras alimentares) que resistem à digestão no corpo (portanto não são digeríveis) e que, ao chegar ao intestino, promovem uma série de efeitos benéficos ao organismo (Quadro 1). Probióticos, por sua vez, são microorganismos, especialmente bactérias, que, quando ingeridas (adicionadas a diversos alimentos), auxiliam na manutenção da saúde do indivíduo como um todo, principalmente por favorecerem a instalação de uma microbiota mais saudável no intestino (Quadro 2). Os alimentos probióticos mais conhecidos são os leites fermentados.
POR QUE CONSUMIR MAIS PROBIÓTICOS?
Recentemente, numa pesquisa inédita, pesquisadores do Texas (USA) mostraram que Lactobacilus reuteri, uma bactéria presente na microbiota intestinal, pode auxiliar no combate a distúrbios de comportamento social, como alguns decorrentes do autismo.
De acordo com a pesquisa, animais filhos de mães obesas durante a gestação podem apresentar anomalias no seu comportamento social decorrentes de alterações na população de bactérias específicas da microbiota intestinal desses animais. Os pesquisadores fizeram diversos experimentos e puderam observar que várias bactérias estão alteradas nesses filhotes e associaram essas alterações aos distúrbios de comportamento social observado apenas na ninhada de mães obesas. Os filhotes de mães obesas interagiam menos com outros animais (conhecidos ou não).
Os cientistas do grupo mostraram que o L. reuteri estimula a liberação de oxitocina no sistema nervoso central e sua interação e ativação de circuitos dopaminérgicos, que regulam o comportamento social dos indivíduos. Ao reintroduzirem o L. reuteri na microbiota intestinal desses animais, o comportamento social natural foi restaurado nesses filhotes.
Assim, além de alertar sobre a importância do combate à obesidade materna, o estudo, publicado na revista Cell, traz boas notícias: no futuro, o consumo de probióticos pode prevenir e restaurar distúrbios de comportamentos sociais relacionados a doenças como o autismo, por exemplo. Entretanto, é fundamental perceber que uma boa saúde depende da ingestão de alimentos funcionais, mas também de vários fatores que, associados, melhoram a saúde do indivíduo como um todo.
Referências:
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SOBRE A AUTORA:
Albina de Fátima Silva Ramalho Garcia – Farmacêutica, especialista em Cosmetologia e Produção de medicamentos magistrais, mestre em Biociências – nutrição e metabolismo celular (UFMT), doutora em Ciências Médicas – Clínica Médica (UNICAMP), pós doutoranda em Fisiopatologia médica (UNICAMP). Vinculada ao Centro de Pesquisa em Obesidade e Comorbidades, atua em obesidade, particularmente com moléculas que alterem a permeabilidade da barreira hemato-encefálica.