“Eu posso resistir a tudo, menos à tentação”. Todo mundo que começou uma dieta um dia entende o que o famoso escritor Oscar Wilde quis dizer com esta piadinha. Pouco importa o que afirma a última dieta da moda, o único jeito de perder peso é reduzir a quantidade bruta de calorias consumidas. É uma equação simples, mas uma maneira difícil de se viver.
Ou será que não é tão difícil assim? A professora Susan Roberts, da Escola de Nutrição e Políticas Públicas da Universidade Tufts, nos EUA, pensa diferente. Ela decidiu criar seu próprio programa de perda de peso, baseado nas melhores informações que a Ciência atual pode fornecer sobre perda de peso, fome e saciedade. Susan deu o nome de “comer instintivo” à dieta, que virou a base de seu livro “A dieta do Eu” (título ainda não disponível no Brasil).
Agora, a pesquisadora encontrou evidências de que sua dieta do “Eu” realmente facilita a vida das pessoas – e que a mudança começo dentro de suas próprias cabeças. Em um estudo publicado em setembro no periódico Nutrition & Diabetes, Susan e colegas revelam que escanearam o cérebro de voluntários antes e depois de eles passarem 6 meses pela dieta. Os pesquisadores analisaram a resposta cerebral em relação a diferentes tipos de alimentos.
As imagens revelaram que o cérebro dos participantes da dieta mudou ao longo dos seis meses. Ao final do período, eles reagiam de maneira mais positiva a comidas saudáveis, como alimentos ricos em fibras e frango grelhado, e menos positivamente a alimentos ricos em calorias, como cereais açucarados e frango frito.
Confira a seguir uma entrevista realizada pela equipe de jornalismo da Universidade Tufts com a cientista Susan Roberts sobre esta incrível “mudança mental” em quem faz dieta. Entenda o que estas modificações podem implicar na busca por curas à epidemia moderna de obesidade.
Pergunta: o que o escaneamento do cérebro revela sobre as experiências das pessoas em dieta?
Nós observamos mudanças ocorrendo nos centros de recompensa do cérebro – as vontades de comer estavam mudando. Esta habilidade de reverter os circuitos cerebrais nunca tinha sido descrita antes, nem mesmo em pessoas que fizeram cirurgia bariátrica, as quais passam a sentir menos fome. Nossos voluntários começaram a dizer coisas malucas por um tempo, como “você não vai acreditar, mas eu estou sentido uma vontade louca de comer barrinhas de cereais!”, e este estudo ajuda a entender o porquê disto.
Baseado no que sabemos sobre neurobiologia, o que temos feito é colocar os maus circuitos cerebrais “para dormir”. Veja, nós não estamos destruindo estes circuitos, apenas “adormecendo-os” (e você pode viver confortavelmente com eles adormecidos). Ao mesmo tempo, estamos estimulando os circuitos saudáveis e mantendo-os vivos ao utilizá-los várias vezes. Mas se você começar a usar demais os circuitos que dão fome de coisas gordas de novo, é claro que eles voltarão à ativa.
O lugar-comum diz que fazer dieta é difícil. Se você pergunta para quem faz dieta quais são os dois principais motivos de desistência, em primeiro lugar eles dizem que sentem fome, e depois dizem que sentem falta de comer coisas das quais gostam. Nós buscamos reduzir a fome e combater a vontade de comer através da mudança na preferência alimentar das pessoas, para que elas passassem a sentir mais prazer e saciedade quando comem alimentos saudáveis. Se você pode fazer isto, porque alguém deixaria de fazê-lo? Todo mundo está tentando perder peso. Em média, 50% dos norte-americanos tentam uma dieta todos os anos.
Qual componente da sua dieta você acha o mais importante?
Eu acho que é a combinação de menus e a ênfase no controle da fome. Eu acredito que a composição dos alimentos é importante. Trata-se de uma dieta com moderadamente poucas calorias e densidade calórica, mas com muitas proteínas. É uma receita nutricional complicada. Mas quem a segue aprende, com o tempo, a prepará-la por conta própria. Existem elementos comportamentais também, que ajudam as pessoas a mudar da maneira certa.
Fast food e outras comidas “junk” fazem mal à saúde mesmo se você for magro. Pessoas que não estão acima do peso podem, elas também, aprender a preferir comidas mais saudáveis? Ou será que existe alguma coisa diferente em seus cérebros?
Todo mundo é basicamente igual em termos de criar novos hábitos e deixar outros para trás. Não é que pessoas não-obesas não sejam sensíveis a alimentos calóricos; o que acontece é que elas conseguiram criar (mesmo sem saber) hábitos que as mantêm longe destas comidas. Na realidade, a maioria das pessoas é susceptível ao ganho de peso. Existe apenas um número bem pequeno de pessoas que parecem ser resistentes a isto, mas a maioria acaba ganhando uns bons quilos só nas festividades de Natal e Ano Novo, facilmente. Neste ambiente atual, de alimentos tóxicos, quase todo mundo está em risco de ficar acima do peso.